quarta-feira, 2 de maio de 2018

A truculência da Polícia do Paraná com a chegada de Francischini

Uma série de iniciativas do novo secretário de Segurança Pública do Paraná revela a atuação desmedida e ameaçando o trabalho de jornalistas
Jornal GGN - O ex-deputado federal, Fernando Francischini assumiu a Secretaria de Segurança Pública do Paraná, em uma das iniciativas do então governador Beto Richa (PSDB) de reformulação do sistema de segurança do estado, quando transformou a Secretaria da Segurança Pública em Secretaria da Segurança Pública e Administração Penitenciária.
Assim que assumiu a pasta, Francischini recebeu a diretriz para a condução do cargo: "ser firme", "tirar bandidos das ruas", "apreender mais armas", "voltar com as gratificações [aos policiais]", "colocar autoridades dentro dos presídios". Na contramão da política de desarmamento, uma das iniciativas adotadas que causou polêmica foi a de oferecer um "bônus" ao policial que apreender mais armas.

“O governador Beto Richa, quando assumiu o governo do estado em 2010, tinha um dos piores salários da polícia do Brasil. Tinha o menor efetivo per capita de policiais militares. Teve um aumento muito grande de cargo, implantação de subsídio. Tudo isso influenciou e jogou o estado quase no limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal, o que atrapalhou muito o governador”, defendeu o secretário, em uma entrevista ao G1, em dezembro do último ano, justificando a radicalidade que adotaria pela frente. 
Disse que aceitou o desafio do cargo porque tinha a certeza de que o governador iria ajudá-lo. 
Mas o "pulso firme", que em tese visaria à melhora para a questão da segurança no estado, não foi consenso, e respingou na liberdade de imprensa. Um coronel aposentado da Polícia Militar, Eliseo Furquim, descreveu a "cultura da violência" que estava sendo praticada pelas tropas. 
Ao colunista da Gazeta do Povo, Celso Nascimento, o coronel e outras fontes sigilosas contaram sobre a visão ultrapassada de políticas de segurança de Fernando Francischini. 
O alerta foi dado: “estamos arriscados a voltar aos tempos do tacape e da truculência policial, atropelando-se preceitos básicos do Estado Democrático de Direito e desrespeitando direitos humanos”.
Ex-policial militar e policial federal, Fernando Francischini chegou a levar o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, conhecido pela sua truculência no trato com a realidade das quadrilhas de traficantes cariocas, ao governador Beto Richa e à equipe policial paranaense – ato considerado impróprio, pelas diferenças de realidades. No mesmo encontro, Francischini também propôs integrar as duas polícias, sob o “sistema Beltrame”, para assegurar a fronteira do Paraná.
Uma semana antes da publicação de Celso Nascimento, a polícia do Paraná havia deflagrado a Operação Lei e Ordem, que prendeu e acorrentou 68 pessoas da periferia pobre, acusadas de crimes variados – as reuniões e diretrizes de Francischini começavam a ter contorno.
"Nascimento: precisamos urgentemente da sua pena! Você, como jornalista, pode nos ajudar: o governador ainda vai se arrepender de ter colocado esse Francischini na secretaria; ele está implantando a ‘cultura da violência’ nas polícias do Paraná. Vai dar porcaria. Precisamos alertar o governador”, exclamou, em outro dia, o coronel Eliseo Furquim ao jornalista.
Naquele mesmo dia, 15 de janeiro, pouco tempo depois de conversar com o coronel, o jornalista entrou em uma via na contramão e foi parado por agentes da polícia, que o abordaram com extrema truculência durante mais de duas horas.
Após nova coluna descrevendo o fato, o secretário de Segurança Pública respondeu em rede social acusando Celso Nascimento de ter tentado uma “carteirada” para evitar a autuação.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) se manifestou, lamentando o ocorrido. “Ao acusá-lo publicamente e tentar minar-lhe a credibilidade, o comandante da tropa transmite uma mensagem perigosa à corporação – tal e qual anunciado na coluna de Celso Nascimento”, publicou em nota.
Outros casos de abordagem repressiva contra jornalistas já foram divulgados, como a prisão do repórter Iverson Vaz, da CNT, que narrava ao vivo a ação dos policiais, depois de um ataque a um caixa eletrônico, e foi detido por ultrapassar o cordão de isolamento da PM. 



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